sábado, 17 de julho de 2010

O álcool aquece nossos corações.

É fonte de fantasia, de sonhos,

De lindas alucinações. Ter-lhe à boca

É o mais perfeito agrado. Seu ardor

Queima as entranhas, em vivas labaredas.


Mingua infinda tristeza, de sonhos

Imperfeitos, todos fartos de pecados.

Cerro os olhos; o aposento a rodar...

E vendo a realidade girar,

Percebo: Jamais deixarei de te amar!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

The summers of our youth...

"Este é o livro das flores,

Este é o livro do destino,

Este é o livro de nossos dias,

Este é o dia de nossos amores."


(Renato Russo)


Sinto a saudade do clima de outono que se aproxima. A noite é quente e silenciosa e eu observo o céu parcialmente estrelado. Longe tanto quanto meu pensamento, você não se lembra de mim. Meramente sabe que existo.

Da minha cadeira embalo-me ao som de uma música, e daqui também aprecio o rosto urbano e iluminado do horizonte, enquanto levo à boca um gole de uísque. Desce-me a abrasar a garganta, grosseiro. Longe de ser o que há de mais palatável. Eu o absorvo ainda assim, para que me aqueça o peito. Esta é a beleza e a fluidez de uma melodia azul e embrumada. Estar ébrio acentua estas recordações, como se eu não estivesse mais presente.

Aqui repouso enquanto ouço estas canções há muito conhecidas. Estas que me trazem ricas lembranças daquele verão. Posso ainda, com a ajuda delas, experimentar de volta todas aquelas sensações, ainda vivas.

Esta é a canção dos meus amores. Suaves são seus versos e tristes são as notas de sua harmonia entorpecente. A eles entoo esta melodia de todos os dias que se foram, mergulho em nostalgia banhada em recordações queixosas.

Tristes sombras nas paredes, quem são? Como as almas que se foram, como tudo o que foi esquecido, vejo cada semblante marcado na penumbra azulada. Estão lavados em agonia, ou tristeza mansinha, um pranto suave e contido, uma lágrima amargurada.

A certeza da solidão é mordaz e sua presença gélida faz minhas entranhas estremecerem. O torpor da bebida agora recolhe o seu manto. Agora posso vislumbrar claramente, eu inteiramente tomado pelo terror: Eis que que a face no retrato ornado pela escuridão é a minha!

A alegria dolorida, a angústia transtornada de vê-la passar, a ansiedade de atravessar a rua e ir ao seu encontro. Naquele dezembro de dois mil e quatro ficaram guardadas para sempre minhas mais preciosas lembranças de amar, de abraçar, da mais pura e verdadeira felicidade de adormecer ao seu lado, sem jamais ousar despertar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Suspiro...

“Enquanto eu longe de ti
Ando, perdida de zelos,
Afogam-se outros olhares
Nas ondas dos teus cabelos.

(…)

Adivinhar o mistério
Da tua alma quem me dera!
Tens nos olhos o outono,
Nos lábios a primavera...”

(Florbela Espanca)


Gota serena de delicadeza. Alma profunda e repleta dos mais fascinantes mistérios, intangíveis. Amor que dá saudade, gentileza que enternece. Voluptuosa e cativante. Minha razão para ainda amar.

Sou o seu segredo. Sou o seu clamor impetuoso e também o seu sonhar, pois lá é que me faço presente. Ali procurarei seus olhos esfíngicos, seus lábios feitos a pincel de qualquer divindade caprichosa; minha mais delirante inspiração, a mais inatingível aspiração.

Meu mais belo contentamento, você é a força que completa a minha alma. A razão que me aviva, a insanidade que me liberta. Saudade que vem enamorada e dolorida.

Dançará, enfm, em todos os sonhos que na memória eu puder preservar, reminiscentes, aqueles que velarei em vigília para que não desapareçam ao findarem-se as antemanhãs. Meu amor, minha melodia noturna… Nada lhe peço! Nasceu para ser livre…

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Oração de despedida...

Esta dor que inflama e que esfola é meu paraíso. É meu desterro, meu esquecimento. Um refúgio sagrado de amargura profana que atormenta e traz a morte do ser.

É a mágoa daquele que foi esquecido, da rejeição. Sinto frio e minhas mãos tremem, mal podendo repousar a caneta. A lamúria ecoa em meus ouvidos na mesma medida em que sinto meus sentidos fraquejarem. A imagem do aposento escuro e tenebroso torna-se turva, como se lânguidos de fato fossem meus olhos, marejados não sem razão.

Este pesar que só a mim compreende, só eu mesmo o entendo. Ele que chama, que clama por meu nome. Por que não me levas de uma vez?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Presságio...

"Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você"

(Antônio Carlos Jobim / Vinícius de Moraes)


A triste canção golpeia meus ouvidos e leva-me a uma viagem num turbilhão psicodélico de sensações amargas, desesperadas... Suaves. A calmaria se faz presente, em uma segunda melodia, flutuante, morna e levemente pulsante. Ela sussurra segredos doloridos. Embala meu pranto enquanto suspiro uma doce e desconhecida fragrância em meus lençóis. Tudo se dissolve e escorre como visgo, ao final...

O peso recai sobre mim quando o crepúsculo encobre a tarde risonha de janeiro. Eu a sinto de novo. Vem vindo como um presságio, uma mensagem dolorida de um sentimento vindouro. Um conhecido pesar. Eu a conheço. Sei que está aí. Apareça para assolar-me novamente a alma e envolvê-la em solidão. Em você.

Quero sentir suas mãos frias, meu coração tosco em constrição. Venha lenta e tímida, a passos miudinhos, para derramar-me pequenas e acerbadas lágrimas, e então espere. Eu logo estarei pronto. Plante-me novamente a poesia polida de pranto, e eu lhe darei uma flor.