sábado, 16 de janeiro de 2010

Suspiro...

“Enquanto eu longe de ti
Ando, perdida de zelos,
Afogam-se outros olhares
Nas ondas dos teus cabelos.

(…)

Adivinhar o mistério
Da tua alma quem me dera!
Tens nos olhos o outono,
Nos lábios a primavera...”

(Florbela Espanca)


Gota serena de delicadeza. Alma profunda e repleta dos mais fascinantes mistérios, intangíveis. Amor que dá saudade, gentileza que enternece. Voluptuosa e cativante. Minha razão para ainda amar.

Sou o seu segredo. Sou o seu clamor impetuoso e também o seu sonhar, pois lá é que me faço presente. Ali procurarei seus olhos esfíngicos, seus lábios feitos a pincel de qualquer divindade caprichosa; minha mais delirante inspiração, a mais inatingível aspiração.

Meu mais belo contentamento, você é a força que completa a minha alma. A razão que me aviva, a insanidade que me liberta. Saudade que vem enamorada e dolorida.

Dançará, enfm, em todos os sonhos que na memória eu puder preservar, reminiscentes, aqueles que velarei em vigília para que não desapareçam ao findarem-se as antemanhãs. Meu amor, minha melodia noturna… Nada lhe peço! Nasceu para ser livre…

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Oração de despedida...

Esta dor que inflama e que esfola é meu paraíso. É meu desterro, meu esquecimento. Um refúgio sagrado de amargura profana que atormenta e traz a morte do ser.

É a mágoa daquele que foi esquecido, da rejeição. Sinto frio e minhas mãos tremem, mal podendo repousar a caneta. A lamúria ecoa em meus ouvidos na mesma medida em que sinto meus sentidos fraquejarem. A imagem do aposento escuro e tenebroso torna-se turva, como se lânguidos de fato fossem meus olhos, marejados não sem razão.

Este pesar que só a mim compreende, só eu mesmo o entendo. Ele que chama, que clama por meu nome. Por que não me levas de uma vez?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Presságio...

"Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você"

(Antônio Carlos Jobim / Vinícius de Moraes)


A triste canção golpeia meus ouvidos e leva-me a uma viagem num turbilhão psicodélico de sensações amargas, desesperadas... Suaves. A calmaria se faz presente, em uma segunda melodia, flutuante, morna e levemente pulsante. Ela sussurra segredos doloridos. Embala meu pranto enquanto suspiro uma doce e desconhecida fragrância em meus lençóis. Tudo se dissolve e escorre como visgo, ao final...

O peso recai sobre mim quando o crepúsculo encobre a tarde risonha de janeiro. Eu a sinto de novo. Vem vindo como um presságio, uma mensagem dolorida de um sentimento vindouro. Um conhecido pesar. Eu a conheço. Sei que está aí. Apareça para assolar-me novamente a alma e envolvê-la em solidão. Em você.

Quero sentir suas mãos frias, meu coração tosco em constrição. Venha lenta e tímida, a passos miudinhos, para derramar-me pequenas e acerbadas lágrimas, e então espere. Eu logo estarei pronto. Plante-me novamente a poesia polida de pranto, e eu lhe darei uma flor.