quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cantilena...

"Well I was born a blue melody
A little song my mama sang to me
It was a blue melody
Such a blue
You've never seen 

(...)

There ain't no wealth
That can buy my pride
There ain't no pain
That can cleanse my soul
No just a blue melody
Sailing far away from me 

(...)

So if you hear that blue melody
Won't you please send it home to me
It's just my 
Blue melody
Callin' far away to me"

(Tim Buckley - "Blue Melody")


A tormenta derramada pelos céus inunda-me o espírito, afogando-o num rio lamacento. A noite apresenta seu manto frio como os ventos que sopram em meu rosto.

A concentração tão caçada se esvai em diluídos fragmentos de angústia. As palavras desgastadas permanecem enfurnadas e levam-me o tempo que já não tenho. Palavras de um amor ébrio que se arrasta através dos anos cavos de minha juventude.

Esta é a minha “blue melody”, cantilena já desgastada, que envio em noites como esta para velejar ao seu único e impossível destino. Aos doces olhos castanhos que cintilam como sol no meu horizonte abrumado, nas noites insones regadas a uísque.

As palavras se engasgam em minha garganta, banhadas pelo gole da bebida candente. Aumento então a intensidade do folk em meus ouvidos, apenas para mergulhar entorpecido na penumbra glacial de uma madrugada agora escaldante. Repouso indefinidamente em minha cadeira, em meu santuário casto, no mesmo lugar onde tantas vezes o corpo dela sentou-se ao meu lado, e apenas um de nós desejar a extinção temporal. 

Meus pensamentos são malignos e remetem-me a uma agitação insana, rancorosa, ciumenta. Os bramidos vis da alma decadente retinem pelo aposento, mas todos dormem. Todos dormem. Sou aquilo que vagueia cambaleante entre prédios antigos e desnudos, ou pelos corredores do apartamento vazio, onde a viração ateia. Sou o que um dia acreditou escrever para ela, mas não pôde dizer muito mais que o mesmo.

0 gota(s) de chuva: