segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Recomeça a estação das chuvas...

“Quis continuar a falar, mas, de repente... Calei-me”.
— Sabe por que estou eu tão contente? — perguntou-me ela — e me sinto tão satisfeita por o ver? Por que estou tão carinhosa para com você?
— Diga — perguntei eu, e o meu coração batia...
— Pois eu lhe tenho toda esta amizade porque você não se apaixonou por mim. Outro, no seu lugar, teria começado por me importunar e aborrecer teria suspirado e fingido que estava doente. Mas você foi tão franco e tão simples!
E apertou-me a mão com tanta força que por pouco eu não gritava. E riu-se outra vez.
— Meu Deus! Como você é meu amigo! — continuou depois de uma pausa cheia de seriedade. — Acredito verdadeiramente que foi Deus quem o enviou. Que teria sido de mim se não o tivesse ao meu lado? Tem sido tão bom para mim! Se eu me casar havemos de continuar assim, amigos... Como dois irmãos. Hei de gostar de você quase tanto como dele...
Custaram-me estas palavras e, naquele mesmo instante, senti um desgosto imenso; mas a seguir, qualquer coisa semelhante a um sorriso se esboçou na minha alma.
— Está muito desassossegada
— disse-lhe — pois, no fundo, tem medo que ele não venha.
— Mas que idéia! Se não estivesse tão contente, é muito provável que me fizesse chorar com essa sua descrença e com as suas censuras. Além disso, não tem feito outra coisa senão insistir numa hipótese que pode trazer-me muitas contrariedades. Mas isso fica para depois; por agora confesso-lhe que adivinhou. Eu estou verdadeiramente... Fora de mim! Eu sou toda ansiedade e percebo tudo e tudo ouço como através de uma nuvem... Mas basta... Não falemos mais de sentimentos...”

(Fiodor Dostoievski – “Noites Brancas”)



Os dias têm sido turvos, cinzentos, desbotados e chuvosos, assim como a velhice que me aguarda. Mesmo quando o sol brilha no céu azul ao longe, quando cantam o mar e os pássaros, as folhas verdes das árvores balançam ao vento... Mas tudo é triste e vazio por trás das lentes do meu espírito.

Conforme o tempo passa, percebo como estive vivendo tudo novamente, como um ciclo que retorna à sua origem e ao mesmo tempo ao seu fim, indistinguíveis um do outro, numa mesma seqüência de fatos, sentimentos e frustrações. Está tudo sempre o mesmo. Está tudo assim tão diferente e tão semelhante ao que se foi.

A promessa se repete a cada novo ciclo, a proteção que busco na solidão se mostra sólida em sua teórica invulnerabilidade. Acabo sempre quebrando a promessa e deixando que aconteça de novo, deixando que haja uma aproximação indevida por parte de algumas pessoas. Pessoas que me despertaram aquilo que nunca esquecerei, quão marcante é a sua presença em nós, tamanha a sua sublimidade e poder. Maldito seja ele.

Mais uma vez faço então a promessa que um dia me libertará de todo esse mal que maravilhoso é para o mundo. Aquilo que todos conhecem em todos os idiomas, que faz queimar seu orgulho em cinzas e desatina. Sua presença é a causa de meu sofrimento e minha solidão. Mas sou feito dele...

Minhas noites, naturalmente terminam com uma manhã. É sempre igual às outras. Nada passa pela minha mente para cumprir-se durante o dia. Os dias são assim sempre iguais... Pena ter eu perdido o costume. Terei de recupera-lo novamente; afinal, é isso o que a vida sempre me mostrou, enquanto eu me recusava a enxergar, colocando-me nos braços de alguém. Alguém, que, como sempre, não queria nada daquilo. Não era diferente da personagem acima. Bem, afinal de contas não me podem oferecer mais do que aquela mulher da história ofereceu ao seu desgraçado interlocutor. Ninguém pode oferecer mais do que isso a alguém como eu, como outros iguais a mim. Por que é tão difícil aceitar quando nos parece inevitável o nosso fim? Sei que terminará da mesma forma. De que me valerá conseguir aquilo que quero? Procuro ter a esperança de que isso aplacar-me-á a falta que ele faz.

Pelo menos, desta vez, alguém cuidou tão bem de mim antes de partir que não haverá como o rancor espalhar seus ramos negros e amargos sobre mim. Ela aumentou minha muralha, mas deixou algumas flores lá dentro.
Mais um ano começa, indiferente, incolor. Para mim todos os dias serão dias de novembro e todos os sóis de cada dia estarão cobertos pela chuva fria.

“Hoje é o primeiro dia do resto dos seus dias.” (Thom Yorke)

8 gota(s) de chuva:

Anônimo disse...

Devida e merecidamente linkado em minha estação assim sendo não o perco mais de vista.
Contéudo, bom gosto e bom senso fazem toda e total diferença.
Mais algumas folhas secas pelo teu chão.
Eu, Simplesmente Outono.

Jéssica Teles disse...

"Conforme o tempo passa, percebo como estive vivendo tudo novamente, como um ciclo que retorna à sua origem e ao mesmo tempo ao seu fim, indistinguíveis um do outro, numa mesma seqüência de fatos, sentimentos e frustrações. Está tudo sempre o mesmo. Está tudo assim tão diferente e tão semelhante ao que se foi."

A vida em si é mesmo um ciclo.. e acho que você não é o único a se sentir assim..
Eu também considero "tudo assim tão diferente e tão semelhante ao que se foi", mas acabo me conformando com isso... Um dia, muda.
Obrigadoo pela visita e Feliz Ano Novo pra você também!
*-*

Kari disse...

Aí! Quanta tristesa em tão poucas palavras.
Olha, já tentei criar uma muralha, já prometi não me apaixonar por mais ninguém, até que me apareceu alguém assim, tão especial que eu não resisti.
Sei que é chato ouvir isso, mas eu acredito que há uma pessoa reservada pra cada um. Sabe "a sua metade"? Nunca acreditei muito nisso, até um tempinho atrás quando me apaixonei pelo mais inesperado alguém. E aí eu passei a acreditar que, independente de qualquer coisa, existe alguém pra cada um, esteja aonde estiver.

E quanto aos dias, o melhor é viver um de cada vez...

Um beijão

PS.: Obrigada por gostar tanto lá do blog. Fico feliz em saber que temos pensamentos tão parecidos.

B!ah♥=D disse...

Sabe,as vezes não sei se douum sorriso pq seu texto estah lindo ou se choro por ele ser tão triste...
Sério...
Sem comentários nem conselhos(jah q não sou ninguém para este último)
Desejo q 2008 supere suas expectativas...
Beijos;
=]

Dan disse...

Otimom ano pra vc, faça o que nao fez no anterior
seja melhor do que ja foi
se supere sempre
e pense no proximo como a ti mesmo
se cada um o fizer teremos com toda certeza um otimo ano

Aprendiz do amor disse...

adorei os textos(bela escolha). que voce tenha um otimo 2008 =)

Anônimo disse...

"Os dias têm sido turvos, cinzentos, desbotados e chuvosos, assim como a velhice que me aguarda. Mesmo quando o sol brilha no céu azul ao longe, quando cantam o mar e os pássaros, as folhas verdes das árvores balançam ao vento... Mas tudo é triste e vazio por trás das lentes do meu espírito."

Sabe que o problema está em você. Sabe que tudo está turvo, pois você aceita assim... Sabes de tudo, mas se conforma muito fácil!

Tangerina disse...

Eu sei como é se sentir assim... Mas é VOCÊ quem escolhi isso...

Veja:
Minha melhor amiga disse que eu tenho atitudes infantis, que eu sou uma idiota, que meu namoro é imaturo, e que o dela é muito melhor, porque os dois são muito maduros e cada qual tem sua individualidade...(engraçado que não durou 4 meses, no entanto o meu dura quase 15 meses). Minha outra amiga não me dá bola, crescemos juntas, fomos as melhores amigas possíveis, mas... fomos... não somos mais...!
Eu não sei o que as pessoas pensam sobre mim, e realmente não me interessa, o que me desagrada é como me tratam. Tenho problemas comigo mesma... E às vezes sinto mais melacolica do que um depressivo, embora não seja...

Mas EU escolhi não senti dor...
De vez enqunado basta-me alguns minutos de desespero e choro para que eu possa suportar um pouco mais... Era tão ruim quando eu me permitia SER triste.

E é só VOCÊ quem pode fazer o que quiser na sua vida, ficar triste ou... VIVER!

Espero que tenha entendido...

Beijo Grande
Ps:Ainda bem que tudo se resolveu, agora estamos bem novamente!